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Fotografia Analógica: menos glamour, mais realidade

Atualizado: 18 de mar.

A fotografia analógica voltou a ser assunto. Mas, antes de se tornar tendência no Instagram, antes das câmeras instantâneas virarem item de moda e dos filmes coloridos aparecerem em prateleiras de papelaria, ela foi esquecida, marginalizada e até considerada obsoleta. Hoje, muito do discurso ao redor da fotografia com filme é embalado por uma aura romântica — como se fosse apenas um jeito nostálgico de fotografar. Mas a verdade é mais direta: fotografar em filme nunca foi apenas charme. Foi resistência. E, por um tempo, foi também visto como atraso.




Um formato que já foi tratado como ultrapassado

Quando a fotografia digital se tornou dominante, a analógica foi empurrada para o canto. Artistas que continuaram trabalhando com filme foram colocados à margem, rotulados como “alternativos demais”, “experimentais demais” ou simplesmente “teimosos”. A indústria abandonou o analógico, os laboratórios fecharam, os filmes sumiram das lojas. E durante esse período, a fotografia analógica foi mantida viva por poucos — em sua maioria artistas que viam na química do processo e nas imperfeições da imagem uma linguagem válida, não apenas uma estética de época.

Esse cenário é bem documentado por teóricos como Antonio Fatorelli e pesquisadores que discutem a “forma fotografia” — o modelo dominante que padronizou a imagem nítida, centralizada, previsível, enquanto tudo que fugia disso era taxado de “imagem errada”. Mas essas “imagens erradas” são justamente o que hoje inspira novos fotógrafos a buscar o analógico.


Por que esse “erro” virou linguagem

Quem trabalha com filme sabe: o erro faz parte. Borrões, dupla exposição, cores imprevisíveis, grãos excessivos, distorções de foco — tudo isso, que antes era visto como falha, passou a ser elemento estético. Isso não aconteceu por acaso. Fotógrafos como Paolo Gioli e Dirceu Maués já exploravam esses ruídos como parte da linguagem muito antes da fotografia analógica voltar ao mainstream. Para eles, a imagem perfeita não era o objetivo — o processo, sim. A câmera deixava de ser uma máquina previsível para virar ferramenta de experimentação.


O mercado resgatou, mas com filtro

Hoje, a fotografia analógica voltou às vitrines. Mas voltou com outro discurso. Agora ela é “cool”, “autêntica”, “vintage”. Só que esse resgate vem acompanhado de uma suavização da sua história. Poucos falam que, até pouco tempo, fotografar com filme era visto como algo inútil, ultrapassado. Ninguém mencionava os artistas que seguiram explorando essa linguagem quando ela era vista como “fora do padrão”.

O risco agora é que esse retorno seja tratado apenas como tendência passageira. Que a fotografia analógica seja reduzida a estética de feed, e não seja reconhecida pela sua potência criativa, crítica e técnica.


Sem fetiche: fotografar com filme exige prática e conhecimento

Não se trata de romantizar o filme. Ele tem limitações, custos e exige domínio técnico. Não dá pra sair clicando sem pensar. ISO, abertura, tempo de exposição e escolha do filme são decisões que impactam diretamente o resultado. Revelar é um processo complexo e demorado. E sim, erros acontecem — muitos deles frustrantes. Mas esse é justamente o ponto: você aprende mais sobre fotografia com cada erro analógico do que com mil cliques digitais descartáveis.


Uma linguagem que continua fazendo sentido

A fotografia analógica não é melhor ou pior do que a digital. Mas ela continua sendo necessária. Porque obriga a pensar antes de clicar. Porque desafia o imediatismo. E porque, mesmo fora do hype, ainda é uma forma potente de expressão. O que precisamos agora é parar de tratar o analógico como uma moda retrô ou um fetiche vintage. E começar a encarar essa linguagem como o que ela sempre foi: uma ferramenta criativa legítima, com história própria — muitas vezes invisibilizada — e com capacidade de seguir produzindo imagem relevante, mesmo no meio do caos digital.



📚 Referências utilizadas para embasamento e construção do texto:

  1. Instax Brasil. Fotografia analógica: conheça todos os segredos!Disponível em: https://instax.com.br/blog/foto/fotografia-analogica/

  2. Wanderlei, Ludimilla Carvalho. Na margem da história: fotografia analógica, artistas e imagens erradas.Publicado na revista Significação – Revista de Cultura Audiovisual, vol. 46, n. 52, 2019.Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/6097/609765276014/html/

 
 
 

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